Holy Grail

Holy Grail

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Os demônios do ego

Tudo pelo que lutou contra foi o que se tornou, um sujo reflexo de todas as lágrimas e reclamações. Desejava a queda das máscaras de todos os seres, e tudo que conseguiu foi vestir uma de ferro soldado. Citava a responsabilidade benevolente em todos os discursos, e adotou a irresponsabilidade imoral como discurso de liberdade. Julgou todos os amantes, todos aqueles que amavam coisas diferentes a cada período de tempo, e se perdeu num colapso de aproveitadores. Maximizou o ego e vestiu a certeza de estar absolutamente certo, querendo massacrar o falso culpado. Destruiu toda a razão apontando uma errônea solução. Desistiu da consciência adquirida para se autoflagelar. Enganou e foi enganada para se sentir menos culpada. Se perdeu e seguirá o caminho dos cordeiros pecadores, mas cuidado com os lobos em pele de cordeiro. Todos têm o direito à felicidade, mas se engana aquele que cria um demônio exterior.

O demônio que você vê é você.
Nos tornamos o que pensamos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

21-12-2012

Caminhando pela linha da noite com as visões escurecidas, eu estou negando o sol em minha nova vida. Desejando dançar com a senhora de toda a sensualidade, a madame que amaldiçoa os fugitivos da verdade. Penso em todas as circunstâncias que serão negadas, e todas as casas enterradas. São escolhas feitas por um ser que segue a lei, a lei da sua própria vontade. Deixando a linhagem genética ser tomada pela linhagem de sangue. Obedecendo a única coisa que me restou. Com a força de minha mão esquerda, eu despertei outras consciências, e daqui a três dias, se o mundo realmente acabar em sangue, eu e meus filhos, estaremos aqui para bebê-lo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Oração de Athena


Perdoai-me rainha da justiça
Perdoai-me rainha da sabedoria

Perdoai-me pelas minhas ações malevolentes
Pecados da minha própria existência
Proteja-me da escuridão com seu escudo e artes
Pois o sofrimento é uma ponta de lança
Derrube seu manto sobre meu corpo
Aliviando a dor que corre em minhas veias
Coloque seu elmo em minha cabeça
E me deixe dormir só mais uma noite de guerra

Perdoai-me das blasfêmias impulsivas
Ignorâncias da estrela vermelha
Proteja-me dos tempos de guerra
E despeje habilidade sobre meus passos
Pouse seu conhecimento sobre meus ombros
E perfure-os se a agonia me cegar
Erga-me da escuridão com sua justiça
E no sacrifício me conceda o saber

Me guarde em arte e sabedoria
Me guarde até o fim dos meus dias

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Livro Guardado


O livro guardado
sem ser usado
A leitura esquecida
alegria adormecida
As páginas amaçadas 
e mãos amarradas
O conhecimento perdido
um coração ofendido
A biblioteca de uma constelação
e o pesar de ter emoção
Livro jogado
Despedaçado
Conhecimento antigo
Espera os braços do infinito

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Açougueiro


É um pedaço de carne mal passada
E o sangue se misturando à saliva
São todas às minhas economias 
Transformadas em alegrias
A ejaculação monetária trazendo felicidade
Depois de horas de serviço suado, sentado, deitado
O salário está pagando o infarto

São restos de carne nos meus dentes
E lágrimas descendo em um minuto
São todas as minhas esperanças
Substituídas por lembranças
A face da corrupção me domina
Depois de dias de nobreza, paixão, trabalho
O espírito está pagando o pecado

E nas portas iluminadas da cidade
Eu caminho recusando seios
Apagando a minha sobriedade
Sangrando meus devaneios
Sentindo o que apodrece em mim
Entupindo as artérias do meu coração
Deixando o que há de melhor em mim
Parar as batidas do meu coração

Eu sou o açougueiro que ama o que faz
Tendo um infarto nesse momento
Morto pelo que amei e esculpi
A indiferença eu conheci

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Banquete

Eu sou a areia nos seus olhos distorcendo a visão do caminho
Sussurrando em seus ouvidos um pouco de disciplina
Abusando da sua delicadeza
Insultando a sua esperteza
Estou aberto a opiniões
Abrindo seus botões

Isso não é a minha face
E o cão castrado está por toda parte

Eu sou a mão áspera que pinta seu corpo de vermelho
Levantando o chão aos seus joelhos
Acariciando a sua beleza
Te tornando a realeza
Eu quero mais respeito
Enquanto realizo seu desejo

Isso não é a minha face
E o cão castrado está por toda parte
Isso não é a minha face
E há um sorriso debaixo do látex

Um banquete para a rainha
Suplementos e suplementos para nossa combustão
Satisfação
Minha Majestade está servida.


sexta-feira, 23 de março de 2012

O Ciclope

O ciclope está sentado observando minha silhueta. Ele já viveu eras que desconheço e seu conhecimento seria mais brilhante se ele não estivesse com os pensamentos cravados no que já passou por aquele olho. Poucas vezes eu falei diretamente com ele, poucas vezes eu tentei dizer a ele como é especial, mas seus diálogos muitas vezes rudes me afastam de seu íntimo. Então eu observo e espero, com a vontade de poder conversar sobre como existe esperança enxergando com dois olhos.

O ciclope me vê como um simples humano, carregando os erros e desesperos de todos aqueles que já viu. Sou como qualquer outro, esperando para prendê-lo e escravizá-lo, cheio de tolices na cabeça que me fazem sempre parecer um matador da sua espécie. Gostaria de saber o motivo pra ele me ver assim, já que ele conhece meus olhos e já viu meus ferimentos.

O humano é uma besta e por isso marcou a visão do ciclope. Minha esperança é fantasiosa e nunca vi algo por essas terras, estar junto de um ciclope e exterminar as diferenças. Que ele não me veja como qualquer um outro, pois não quero ser pisoteado. Saio de silhueta para carne e osso, pequeno e defeituoso, busco uma nova realidade, com uma Verdadeira Vontade.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Perfeito Imperfeito

Todos os dias eu levo um tapa na cara dos meus princípios, todos os dias eu queria deixar de pensar. Sobrevivo em um mundo onde a moralidade está velha e doente, apodrecendo em qualquer lugar que não exista relações humanas. Os princípios estão exacerbados na boca imunda de cada corpo andante, e são cuspidos a cada dia mais um pouco. Dogmas são príncipes do transviamento e a imaculada religião castra nossa liberdade da alma. A felicidade é produto de um comércio de solidão, um produto não durável, onde sua única permanência só fica visível quando acaba os instantes de prazer, uma grande depressão. Um mundo de projetos cancerígenos, onde corpos acumulam o pessimismo, a insegurança e os reflexos mais sombrios e perversos da razão. A minha inocência vai sendo torturada e cortada. Cada pedaço vivo jogado nos meus pés é um pedaço que eu guardo, trancando o que eu penso ter de bom em uma caixa, ficando com o que me resta - o triste questionamento se essa caixa vai se perder. Tudo é realista demais, severo demais, certo demais, e muitas vezes chega a ser violento, e eu devo satirizar minha própria imagem para não cair em desgraça. Assim como meu amigo Pessoa, fingindo o poeta que sou. Fingindo o entendimento, fingindo a razão, fingindo conhecer esse mundo que abomina minha nudez e me veste a força com suas ideologias, criando a perfeita imperfeição.

segunda-feira, 12 de março de 2012

No Jardim

Crianças brincam no jardim, pisam nas plantas, se machucam. Muitas vezes estão dispersas de nossas conversas, nossos conselhos ou mesmo nossas brigas. Sujas, remexem a terra, cavam, amassam toda grama, quebram galhos, derrubam flores, elas se divertem. Criança não tem maldade, ela tem energia, ela tem um universo de novos acontecimentos para descobrir, aproveitar e cuidar. O jardim tem um pacto com todas as almas jovens do Universo, suas plantas não machucam muito essas almas sem maldade, até que essas aprendam os significados e encantos dos jardins e suas cores.

Eu fui um jovem assim, mas muito cedo conheci uma moça jardineira. Moça bonita e elegante que não se preocupa em se sujar de terra, moça forte e realista que não têm medo de se machucar. Uma jardineira de mãos firmes, porém delicadas, e que me ensinou essa Arte da Vida. Mas por um longo período eu ainda fui jovem, e brincava no jardim. Mesmo sem maldade, as plantas já identificavam meu conhecimento e resolveram não mais deixar de me machucar. Tive medo e sofri bastante, tentando sempre acelerar o tempo, sem perceber que o tempo na verdade deveria ser utilizado a meu favor.

Totalmente sujo de terra, vendo meu jardim agonizar, deixei de beber minha água para dar novamente vida ao lugar. Usei todas as ferramentas e experiências adquiridas, usei toda energia e magia. E o verde e todas as cores brilharam na minha face como em um olhar direto para o Sol. Cansado e machucado, ainda consegui sorrir por dentro. Foram 601 dias aprendendo a cuidar do jardim secreto, e agora, mesmo depois de tantos espinhos, machucados e trabalhos, volto para minha moça jardineira com o mais belo buquê que ela pode receber.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Astronauta

O sol tenta me acordar
Chamando por pequenas passagens
Lembrando-me das viagens
Uno forças para levantar
Confrontando as horas
Para obter respostas

Acordei para receber
Mesmo em agonia profunda
Que me cala e inunda
Meu, precisa ser
A hostilidade metafórica
A paixão em órbita

Perdido no espaço
Fui além do conhecido
Enalteço o que faço
Desejando ser reconhecido

Quero braços acolhedores
Uma menina sem temores
Quero mostrar que onde andei
Sou o único que assim fez

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sacrifício

Virgindade mortal entregue nas portas do desconhecido olimpo, adormecendo no infinito enquanto adormecem seus sonhos, cada segundo dessa cerimônia profana levou essa alma a enxergar outra realidade. Orando nos altares onde realizava seus sacrifícios é que ela foi sacrificada, apunhalada vagarosamente pela indecisão de algum motivo para existir, algum motivo para resistir. Como flores jogadas no abismo, o sangue descia e gotejava suavemente no chão de pedras firmes, o único sentimento de pureza foi morto por uma ferramenta dos deuses.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Depois do Cinza

Voando rápido e bem distante do chão, vou me segurando no fio da espiral dando socos na face para acordar. Sou um argumentador do tempo, andando por todos os lados, jogando areia no caminho para tentar me aproximar do futuro. Viajo enquanto espero uma viagem, cuido para ser cuidado.

O céu sobre meus olhos nunca esteve tão cinzento, e a chuva incansável era como um presságio de dias que não gostamos de pensar em conhecer. Independente das minhas vontades eu escolhi conhecimento, e isso eu sempre poderei usar para ditar.

A certeza de todos os homens passou direto pelo meu caminho, seu véu cinzento e sua sabedoria que desencanta foi sumindo devagar. Com areia nos meus olhos só pensei em segurar forte no fio dessa espiral e me erguer, descobrindo por último a minha razão de viver.

Segundos de medo momentâneo que me fizeram dormir humano, horas de pensamentos distantes que me fazem acordar santo. Sou um filósofo que fechou os olhos para não ver a dama de todos os homens, e esclarecido enxerguei minha branca Madalena.