Holy Grail

Holy Grail

sexta-feira, 23 de março de 2012

O Ciclope

O ciclope está sentado observando minha silhueta. Ele já viveu eras que desconheço e seu conhecimento seria mais brilhante se ele não estivesse com os pensamentos cravados no que já passou por aquele olho. Poucas vezes eu falei diretamente com ele, poucas vezes eu tentei dizer a ele como é especial, mas seus diálogos muitas vezes rudes me afastam de seu íntimo. Então eu observo e espero, com a vontade de poder conversar sobre como existe esperança enxergando com dois olhos.

O ciclope me vê como um simples humano, carregando os erros e desesperos de todos aqueles que já viu. Sou como qualquer outro, esperando para prendê-lo e escravizá-lo, cheio de tolices na cabeça que me fazem sempre parecer um matador da sua espécie. Gostaria de saber o motivo pra ele me ver assim, já que ele conhece meus olhos e já viu meus ferimentos.

O humano é uma besta e por isso marcou a visão do ciclope. Minha esperança é fantasiosa e nunca vi algo por essas terras, estar junto de um ciclope e exterminar as diferenças. Que ele não me veja como qualquer um outro, pois não quero ser pisoteado. Saio de silhueta para carne e osso, pequeno e defeituoso, busco uma nova realidade, com uma Verdadeira Vontade.

quarta-feira, 21 de março de 2012

O Perfeito Imperfeito

Todos os dias eu levo um tapa na cara dos meus princípios, todos os dias eu queria deixar de pensar. Sobrevivo em um mundo onde a moralidade está velha e doente, apodrecendo em qualquer lugar que não exista relações humanas. Os princípios estão exacerbados na boca imunda de cada corpo andante, e são cuspidos a cada dia mais um pouco. Dogmas são príncipes do transviamento e a imaculada religião castra nossa liberdade da alma. A felicidade é produto de um comércio de solidão, um produto não durável, onde sua única permanência só fica visível quando acaba os instantes de prazer, uma grande depressão. Um mundo de projetos cancerígenos, onde corpos acumulam o pessimismo, a insegurança e os reflexos mais sombrios e perversos da razão. A minha inocência vai sendo torturada e cortada. Cada pedaço vivo jogado nos meus pés é um pedaço que eu guardo, trancando o que eu penso ter de bom em uma caixa, ficando com o que me resta - o triste questionamento se essa caixa vai se perder. Tudo é realista demais, severo demais, certo demais, e muitas vezes chega a ser violento, e eu devo satirizar minha própria imagem para não cair em desgraça. Assim como meu amigo Pessoa, fingindo o poeta que sou. Fingindo o entendimento, fingindo a razão, fingindo conhecer esse mundo que abomina minha nudez e me veste a força com suas ideologias, criando a perfeita imperfeição.

segunda-feira, 12 de março de 2012

No Jardim

Crianças brincam no jardim, pisam nas plantas, se machucam. Muitas vezes estão dispersas de nossas conversas, nossos conselhos ou mesmo nossas brigas. Sujas, remexem a terra, cavam, amassam toda grama, quebram galhos, derrubam flores, elas se divertem. Criança não tem maldade, ela tem energia, ela tem um universo de novos acontecimentos para descobrir, aproveitar e cuidar. O jardim tem um pacto com todas as almas jovens do Universo, suas plantas não machucam muito essas almas sem maldade, até que essas aprendam os significados e encantos dos jardins e suas cores.

Eu fui um jovem assim, mas muito cedo conheci uma moça jardineira. Moça bonita e elegante que não se preocupa em se sujar de terra, moça forte e realista que não têm medo de se machucar. Uma jardineira de mãos firmes, porém delicadas, e que me ensinou essa Arte da Vida. Mas por um longo período eu ainda fui jovem, e brincava no jardim. Mesmo sem maldade, as plantas já identificavam meu conhecimento e resolveram não mais deixar de me machucar. Tive medo e sofri bastante, tentando sempre acelerar o tempo, sem perceber que o tempo na verdade deveria ser utilizado a meu favor.

Totalmente sujo de terra, vendo meu jardim agonizar, deixei de beber minha água para dar novamente vida ao lugar. Usei todas as ferramentas e experiências adquiridas, usei toda energia e magia. E o verde e todas as cores brilharam na minha face como em um olhar direto para o Sol. Cansado e machucado, ainda consegui sorrir por dentro. Foram 601 dias aprendendo a cuidar do jardim secreto, e agora, mesmo depois de tantos espinhos, machucados e trabalhos, volto para minha moça jardineira com o mais belo buquê que ela pode receber.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Astronauta

O sol tenta me acordar
Chamando por pequenas passagens
Lembrando-me das viagens
Uno forças para levantar
Confrontando as horas
Para obter respostas

Acordei para receber
Mesmo em agonia profunda
Que me cala e inunda
Meu, precisa ser
A hostilidade metafórica
A paixão em órbita

Perdido no espaço
Fui além do conhecido
Enalteço o que faço
Desejando ser reconhecido

Quero braços acolhedores
Uma menina sem temores
Quero mostrar que onde andei
Sou o único que assim fez